"Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresentei o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformais-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" - Romanos 12:1-2.
Desde os tempos patriarcais que a pureza do culto e da adoração foi assunto alvo da atenção de Deus.
Pela proximidade que Deus estabeleceu com as primeiras criaturas, vemos o imperativo de O adorarmos e cultuarmos.
Por todo o Velhos Testamento acompanhamos os ensinamentos de Deus a esse respeito e entretanto houveram muitas distorções inseridas no culto judaico, o que levou o profeta Oséias a convocar o povo:
"Vinde, e tornermos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos sarará, fez a ferida e a ligará" - Oséias 6:1
"Depois de dois dias, nos dará a vida; e ao terceiros dia, nos ressuscitará, e viveremos diante dele" - Oséias 6.2
"Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra" - Oséias 6:3
e proferir pela sua boca as seguintes palavras ao Senhor, com referência aos reinos do Norte e Sul:
"Que farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa beneficência é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa" - Oséias 6:4
"Por isso, os abati pelos profetas; pelas palavras da minha boca, os matei; e os teus juízos sairão como a luz" - Oséias 6:5
"Porque eu quero misericórdia e não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos" - Oséias 6:6
O culto cristão nascido da devoção apostólica entretanto, se revestiria de características totalmente diferentes, por isso até os dias de hoje existe a preocupação em não haver desvios dessas características. Esta preocupação faz-se tão mais necessária quando se verifica tanta confusão em matéria de culto e adoração, por falta de uma filosofia e de uma teologia bíblicas do culto, neste começo do século 21.
NATUREZA E PROPÓSITO DO CULTO CRISTÃO
"O culto constitui a ação mais momentosa, mais urgente e mais gloriosa que pode acontecer na vida humana" (Karl Barth)
O QUE É O CULTO?
Culto é reverência, é atribuição de valor absoluto, é a busca de Deus ou resposta a Deus. O culto cristão constitui, diferentemente doutras formas que o culto assume no panorama religioso da humanidade, quando parece uma busca ansiosa de Deus, ou tentativa de aplacar a ira de Deus, e, aos gritos, o ser humano clama por um Deus distante, resposta da criatura remida por Jesus Cristo, alcançada por Sua Graça, ao imenso amor de Deus, mediante expressões de louvor e adoração.
No culto, o coração da igreja pulsa, renovam-se-lhe as energias espirituais, o povo de Deus respira a atmosfera do céu, ao mesmo tempo em que leva ao Senhor as dores e aflições da terra.
Como lembra Beasley-Murray, o culto é a ocasião em que, como homens e mulheres realmente nos sentimos vivos; quando nós, seres humanos, criados à imagem de Deus, começamos a cumprir o propósito mesmo de
nossa existência, a relacionar-nos com o Deus que nos fez. Ou, como diz Martins-Achard: "para o presente, constitui o traço de união entre o passado rico em atos grandiosos do Senhor de Israel e da Igreja, e o porvir tão cheio das promessa do reino celeste.
Ele diz aos crentes donde eles procedem e para onde os conduz a história, apresenta-lhes ao mesmo tempo a maravilhosa benevolência e a sagrada exigência de Deus. O culto atualiza a Palavra que une a Deus o povo escolhido, fazendo-a mais presente e viva para aqueles que se congregam a seu chamado, assim abre aos membros do povo escolhido o caminho do serviço, fortificando-lhes a fé, estimulando-lhes a esperança e despertando neles o amor divino. O culto é o lugar venturoso de encontro dos fiéis com seu Deus, enquanto esperam a vinda do seu reino.
QUAIS OS ASPECTOS DO CULTO?
O culto é:
Sacrifício (de animais do Antigo Testamento, e de nossos próprios corpos no Novo Testamento: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresentei o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional". Romanos 12:1-2.
Como sacrifício, o culto dá ênfase à oferta da própria vida; com temor, enfatiza a reverência; como alegria, a felicidade; como comunhão, a intimidade com Deus; como louvor. ação de graças; como obediência, amor; como êxtase ou celebração, a adoração.
Temor IS 6.5 "Então, disse eu: ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!".
Alegria 2Cr 29:30 "Então, o rei Ezequias e os maiorais disseram aos levitas que louvassem ao SENHOR com as palavras de Devi e de Asafe, o vidente. E o louvaram com alegria, e se inclinaram, e adoraram".
Comunhão Atos 2:44 “Todos os que criam estavam juntos e tinha tudo em comum”.
Louvor 2Cr 20:18,21 “Então, Josafá se prostrou com o rosto em terra; e todo o Judá e os moradores de Jerusalém se lançaram perante o SENHOR, adorando o SENHOR. E aconselhou-se com o povo e ordenou cantores para o SENHOR, que louvassem a majestade santa, saindo diante dos armados e dizendo: Louvai o SENHOR, porque a sua benignidade dura para sempre”.
Obediência 1Sm 15:22 “Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros”.
Êxtase ou celebração 2Sm 6:13,14 “E sucedeu que, quando os que levavam a arca do SENHOR tinham dado seis passos, sacrificam ele bois e carneiros cevados. E Davi saltava com todas as suas forças diante do SENHOR; e estava Davi cingido de um éfode de linho”.
POR QUE O CULTO?
Porque o ser humano deve cultuar?
O homem foi criando por Deus para o relacionamento e comunhão com Ele, e a natureza relacional do ser humano e sua transcendência exigem o culto, eis por que, quando não adoram o verdadeiro, os seres humanos elegem falsos deuses.
EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Disse Jesus, na conversa com a samaritana, que Deus, o Pai, busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade.
O que significa adorar “em espírito e em verdade”, como Jesus falou à samaritana?Adorar em espírito é faze-lo em harmonia com Espírito, e assim adorar a Deus em verdade.
Aliás, uma tradução sugerida para João 4:24, seria: “Deus é Espírito, e somente pelo poder de seu Espírito as pessoas podem adorá-Lo como Ele realmente é”.
Nos eventos acima citados foram listados alguns perigos que precisam ser enfrentados ou evitados. Por exemplo:
1) Lugar menos honroso à pregação, à Palavra, a Jesus Cristo, cuja pessoa e cujos ensinos são pregados, e mais honra ao pregador;
2) 2) A música pode tornar-se espetáculo e seu objetivo, artístico e não a edificação dos crentes, o testemunho das verdades do Evangelho e, sobretudo, a glória de Deus;
3) Dar menos importância às ordenanças do Batismo e da Ceia do Senhor, tornando-os meros “apêndices” do culto e não parte essencial dele;
4) Falta de ênfase na doutrina e prática do sacerdócio universal dos crentes, em prejuízo da comunidade de fé e testemunho, confiando ao ministério ornado a direção e as partes principais do culto;
5) A oração perde importância também como oportunidade de ouvir a Deus, muitas vezes cantamos e falamos, e os decibéis de nosso louvor não permitem o silêncio e quietude para ouvir a voz do Senhor com quem, no culto, dialogamos.
A Declaração de Niterói sobre Adoração, também listou algumas preocupações:
1) a transformação, com muita freqüência, do culto em “show” e exibição de beleza musical ou de talento retórico, como seu objetivo principal;
2) a “clericalização” do culto, com suas principais funções exercidas por ministros ordenados;
3) a informalidade excessiva, a improvisação, a desarmonia e desarticulação entre as partes do culto;
4) a hipertrofia dos chamados “momentos de louvor” nos cultos, em detrimento da ministração da Palavra que orienta, alimenta, santifica, conduz à fé e a vida de compromisso com Deus, em alguns casos pretendendo substituir a pregação pelos cânticos;
5) a focalização do culto na pessoa humana, no seu prazer e divertimento, cambiando a ênfase da ética para a estética, do ser santo para o ser feliz e realizado como pessoa;
6) também a consideração das ordenanças do Batismo e da Ceia do Senhor como apêndices do culto e não como artes essenciais dele, portadores que são das grandes verdades da fé cristã.
COMO HÁ DE SER ENTÃO, O CULTO ACEITÁVEL DIANTE DE DEUS?
Comunidade litúrgica que é, como a igreja deve cultuar a Deus, de maneira aceitável?
• Já vimos que o culto há de ser espiritual: “em espírito e em verdade”.
• O culto há de ser prestado soa Deus (Pai, Filho e Espírito Santo).
• O culto há de privilegiar a Palavra de Deus. O culto sinagogal exerceu forte influência sobre o culto cristão. “O ofício sinagogal, com salmos, louvores, leituras, sermão e preces, delineou a estrutura da sintaxe da igreja. No shabbat e em dias festivos, podia um dos presentes por ocasião dos serviços religiosos, após a leitura da perícope da Tora e o respectivo trecho profético, usar a palavra. Desta possibilidade, Jesus e os apóstolos lançaram mão para pregar o evangelho aos judeus reunidos nas sinagogas: “E, chegados a Salamina, anunciavam a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus; e tinham também a João como cooperador”. – Atos 13:5
O modelo da sinagoga, mais do que o do templo, constitui paradigma do culto cristão evangélico, que tem na Palavra, e não no rito, o centro de sua preocupação.
* O culto há de ser prestado por lábios purificados, que confessam o nome do Senhor;
* O culto há de ser da comunidade inteira, não de oficiantes privilegiados;
* O culto há de ser de todo o nosso ser, e com a inteligência e as emoções;
* O culto há de produzir mudança de vida, santidade e disposição de servir.
Com efeito, o culto verdadeiro não nos deixa os mesmos que entramos no templo: faz-nos assumir novas atitudes de renúncia ao pecado, de busca da vontade de Deus em todas as áreas da vida, de serviço dedicado e de testemunho efetivo.
Que assim compreendendo a natureza mesma do culto, seu imperativo, seus perigos e as condições de sua aceitação perante a Deus, aprendamos a cultuar realmente “em espírito e em verdade”, com orações, testemunhos e louvor que brotem de “lábios que confessam o nome de Jesus”, e a evitar os perigos à genuína adoração, a glorificar a Deus, a edificar a igreja e a abençoar o mundo.
Como na oração de Paulo pelos efésios “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!”.
Glória, pois a Deus, na igreja.
Robert Souza